SmartAgriHubs: uma rede de Digital Innovation Hubs para acelerar a transformação digital do setor agroalimentar europeu

Sjaak Wolfert

  (1)Wageningen University & Research, Países Baixos

George Beers

  (2)Wageningen University & Research, Países Baixos


As tecnologias digitais e os modelos de negócios mostram grande potencial, mas as atuais barreiras e falta de alinhamento impedem o seu avanço.

A agricultura digital afigura-se, de um modo geral, como uma tecnologia fundamental para dar resposta aos grandes desafios do setor agrícola, nomeadamente o fornecimento seguro e sustentável de alimentos de qualidade, promovendo a eficiente utilização de recursos, combatendo os efeitos das alterações climáticas e desenvolvendo a economia circular. As tecnologias digitais, como a Internet das Coisas (Internet of Things - IOT), o Big Data, a Robótica e a Inteligência Artificial, permitem a transformação de operações agrícolas, tornando-as mais inteligentes, ágeis, autónomas e orientadas por dados, podendo ser controladas remotamente e integradas na cadeia de fornecimento alimentar: desde partida produção primária até ao consumidor.

Apesar do grande interesse por parte das empresas de tecnologia, investidores e decisores políticos, a taxa de adoção de soluções de Agricultura Digital é bastante reduzida. Em vários estados-membros da UE, existem pequenos grupos de agricultores que se afiguram como pioneiros na adoção de tecnologias digitais, muitas vezes considerados modelos para outros agricultores. Todavia, a maioria dos agricultores ainda não recorre a tecnologias digitais, direcionando o seu investimento para soluções já conhecidas e tangíveis, como os tratores agrícolas automáticos e robôs de ordenha.

Assim, o atual impacto da digitalização da agricultura encontra-se muito aquém do seu verdadeiro potencial. Algumas das principais razões apontadas são a ausência de conhecimento e de competências tecnológicas na maioria das explorações agrícolas, bem como a falta de planos de negócio para agricultores e de modelos de negócios para fornecedores de tecnologia. Além disso, e ao contrário de outros setores, a agricultura depende de condições sectoriais e regionais. Outro obstáculo identificado é a fragmentação e a falta de alinhamento entre as várias fontes de financiamento público e privado. Além disso, o financiamento público destina-se, maioritariamente, ao desenvolvimento de conceitos ou protótipos promissores, deixando os investidores privados reticentes, pois o potencial de mercado dessas soluções não é claro, assim como os riscos associados. Dessa forma, a maioria dos investidores prefere as start-ups e soluções prontas a entrar no mercado. Tal facto levou ao desenvolvimento de várias apps, enquanto os agricultores necessitam de soluções mais integradas.


O SmartAgriHubs visa promover a transformação digital do setor agroalimentar

De forma a superar os desafios apresentados, o projeto SmartAgriHubs, financiado pela UE, visa desenvolver uma rede pan-europeia de Digital Innovation Hubs (DIHs), promovendo assim a transformação digital do setor agroalimentar. Esta iniciativa pretende, também alavancar, fortalecer e conectar DIHs no setor agroalimentar em toda a Europa. Este "ecossistema de ecossistemas" reúne diversas competências necessárias para aumentar o potencial das soluções digitais e implementar a transformação digital do setor agrícola europeu (Figura 1).

O projeto SmartAgriHubs assenta numa rede de Digital Innovation Hubs agrícolas e Centros de Competência (CC) para promover a partilha de conhecimento e criar um mercado pan-europeu de soluções digitais para o setor agroalimentar. O projeto engloba cinco conceitos básicos, de acordo com metodologias e modelos comprovados (Figura 2):

Os DIHs são ecossistemas através dos quais as entidades/empresas podem ter acesso a conhecimento, competências e tecnologia de ponta, para testar e explorar soluções digitais relevantes para os seus produtos, processos ou modelos de negócio. Além disso, permitem a criação de relações privilegiadas entre investidores, facilitando o acesso a oportunidades de financiamento e reunindo utilizadores e fornecedores de tecnologias digitais ao longo da cadeia de valor (Figura 3).

<

Certas Experiências de Inovação (IEs) encontram-se a desenvolver e a testar soluções digitais em contexto real, através de DIHs, permitindo o acesso a conhecimento, competências e tecnologia de ponta (através de CCs). As IEs desempenham um papel bastante importante na expansão da rede SmartAgriHubs, reforçando os DIHs e os Centros de Competência em termos de quantidade e qualidade de serviços.

O Portal para a Inovação SmartAgriHubs é uma plataforma interativa e uma ferramenta fundamental para apoiar a construção do ecossistema ao nível dos DIHs, mas também a nível regional e pan-europeu. Desempenha um papel crucial e central na construção da rede de DIHs e dos ecossistemas associados.

O SmartAgriHubs expandiu o número de DIHs para mais de 300 e construiu uma rede com mais de 160 Centros de Competência - que podem ser encontrados e analisados através de uma pesquisa na plataforma Agricultural Technology Navigator. Através do Portal para a Inovação, os utilizadores poderão encontrar mais de 100 ações de formação, com vista a melhorar o portfolio de serviços dos DIHs, bem como conhecimento e informação aprofundados. Através de concursos públicos, foram organizados vários hackathons e iniciativas que resultaram em mais de 60 novas IEs ou atividades de inovação relacionadas. O financiamento público de seis milhões de euros do projeto SmartAgriHubs mobilizou cerca de 15 milhões de euros de financiamento público e privado adicional. Desta forma, foi estabelecido um ecossistema dinâmico - com a rede de DIHs agrícolas como núcleo –, que terá continuidade após o término do projeto.


Conciliar os esforços públicos e privados numa abordagem de Investigação e Inovação Responsável

Concluindo, a transformação digital dos produtos agroalimentares encontra-se numa fase em que as inovações demonstram grande potencial, sendo urgente aumentar a sua adoção e integração. O perfil da digitalização está em constante evolução, e tornou-se parte de um ecossistema bastante complexo. O nível de integração de TI está numa fase de transição, passando de aplicativos autónomos que visam operadores de processos únicos, para sistemas de sistemas que visam ecossistemas de negócios complexos, envolvendo vários stakeholders. Do ponto de vista do financiamento, o desafio principal é encontrar um ponto de equilíbrio entre o setor privado e o setor público, para benefício de ambos, o que permitirá retirar o máximo partido do capital de inovação disponível: o setor público irá beneficiar dos avanços tecnológicos no setor privado, sendo que o último poderá explorar o conhecimento especializado e os resultados de investigação, frequentemente associados a projetos apoiados por fundos públicos.

É necessária uma mudança de paradigma envolvendo vários aspetos, como a colaboração, a confiança e a inclusão, em torno de tópicos como a partilha de dados e os novos modelos de negócios. Uma abordagem de Investigação e Inovação Responsável poderá contribuir para o desenvolvimento de soluções digitais mais avançadas e com maior aceitação, devendo basear-se em:

Esta abordagem encontra-se incorporada no SmartAgriHubs, contribuindo para criar ecossistemas de inovação sustentável, capazes de promover sistemas alimentares sustentáveis.