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A Inteligência Artificial (IA) evoluiu a passos largos, graças a investimentos avultados que superam os biliões de dólares. As soluções baseadas em IA contribuem para alterações profundas na indústria, e influenciam a nossa vida pessoal e profissional. No entanto, e à medida que a IA se torna mais relevante, torna-se cada vez mais clara a importância da IA Responsável. Enquanto investigadores, engenheiros e líderes do setor industrial, devemos garantir que os sistemas de IA são benéficos - não só na teoria, mas também em contextos quotidianos. Existem diversos estudos sobre a equidade, robustez, explicabilidade e privacidade em IA, mas a distância entre o trabalho de investigação e as práticas concretas é, ainda, bastante considerável. Com a aplicação da Lei da UE sobre IA e um claro aumento das atividades de investigação nesta área, devemos colocar a seguinte questão: estaremos verdadeiramente preparados para implementar estes princípios de forma eficaz? A Lei da UE sobre IA, prestes a tornar-se um marco em termos de governança em IA, visa criar padrões para o desenvolvimento e a utilização de sistemas de IA a nível europeu. No entanto, e caso não seja eficazmente implementado, este mecanismo corre o risco de focar-se em demasia na questão do cumprimento legal - aumentando a burocracia ao invés de garantir que os sistemas de IA são alvo de testes mais completos e rigorosos. Neste caso, a questão não se prende com o propósito da lei, mas sim com a forma como é implementada. Já testemunhámos desafios semelhantes noutros setores, onde a inovação acaba “sufocada” por legislação excessiva, focada no processo e não nos resultados. Testar é a única maneira de garantir que a IA se comporta de forma fiável em diferentes contextos, e.g., situações extremas com elevados riscos associados. Uma boa analogia é olhar para as indústrias críticas, e.g., aeroespacial ou a energia nuclear, onde o fracasso não é uma opção. Nestes setores, os testes são incorporados em todas as fases do processo de desenvolvimento: desde o design inicial até à implementação. A IA deve seguir o mesmo processo. Os métodos tradicionais utilizados para testar sistemas de IA - que incidem sobre um conjunto de dados específico, e são desenvolvidos em ambientes controlados - não serão suficientemente abrangentes no que toca a sistemas mais avançados, sobretudo se analisarmos os sistemas agentic, capazes de compreender o ambiente onde se encontram, tomar decisões, delegar e desempenhar tarefas para alcançar determinados objetivos. Tomemos como exemplo um agente para a deteção de fraudes bancárias. Este agente pode solicitar uma classificação sobre fraudes a partir de um modelo tabular para a sua deteção, verificar históricos de transações, cruzar dados de diferentes cartões de crédito, pesquisar padrões em diferentes dispositivos, ou mesmo entrar em contacto com o titular da conta. Tendo em conta todas estas informações, o agente pode decidir bloquear a conta bancária em questão. Este tipo de sistema é bastante poderoso, mas também poderá ser bastante perigoso se não for testado devidamente. No caso da IA baseada em agentes, isto significa não só testar o seu desempenho em tarefas individuais, mas em todo o pipeline do processo de tomada de decisão. Por exemplo, torna-se necessário simular cenários complexos de fraude (tais como os que acontecem no mundo real) e ataques coordenados em várias contas, para garantir que a IA se comporta conforme o expectável em condições de risco elevado. Estes agentes de IA, baseados em modelos multimodais de grande escala, apresentam diversos desafios específicos: Para enfrentar estes desafios, é necessário um esforço coordenado por parte da academia e da indústria, para que sejam desenvolvidas estruturas de teste de IA open-source, devidamente abrangentes e estandardizadas, e que permitam: Para que a Lei de IA da UE seja verdadeiramente eficaz, é necessário mais do que simplesmente cumprir requisitos legais básicos. Assim, é premente a criação de uma cultura de testes contínuos e abrangentes que acompanhe a rápida evolução da IA. Não se trata apenas de cumprir regras. Estas ferramentas irão permitir o desenvolvimento de sistemas de IA mais fiáveis e confiáveis, e também acelerar a inovação, contribuindo para uma maior confiança por parte dos developers - para que possam ultrapassar os limites do que é atualmente possível. Está na hora de colocar mãos-à-obra. A IA responsável exige mais do que uma legislação - requer um compromisso assumido com testes e melhorias contínuos, para que seja possível construir um futuro em que a IA melhore as nossas capacidades, salvaguardando os direitos humanos e os valores sociais da UE.